O embate político nas eleições de 2022 teve características inéditas em processos eleitorais anteriores. Desde os acontecimentos de 2013, passando pelo Golpe que havia caracterizado o impeachment da Presidenta Dilma e eleição de Bolsonaro, constituiu-se um campo político de extrema-direita, com características ecléticas mas convergentes, viabilizado por um clima de disputas calcado em valores, com definição de campos antagônicos, conformando relações de confronto que cindiram a sociedade brasileira numa espécie de embate entre o “Bem” e o “Mal” e criando-se um clima de animosidade e ódio que cindiu a sociedade, chegando ao ponto de romper relações humanas, seja nas famílias, nas amizades ou nos comportamentos. Esse embate que se estabeleceu não foi uma tipicidade brasileira, mas se relacionava com o mesmo fenômeno que já vinha ocorrendo em escala internacional. Aqui, este conflito acabou por configurar um Governo Bolsonaro que provocou, ademais dos efeitos na sociedade, um desmonte na institucionalidade, seja governamental, econômica ou social. O processo eleitoral que culminaria com a eleição do Presidente Lula, acabou tomando a feição de um confronto entre a Civilização e a Barbárie, entre a Democracia e o Autoritarismo que, dada a força política que ganhara esse movimento de extrema-direita e dados seus métodos de envolvimento ideológico massivo, acabara fazendo com que a candidatura Lula configurasse um arco político de resistência que colocava no mesmo campo interesses muito variados, cuja linha de unidade fora a defesa da retomada da democracia. Esse grande arco de aliança foi vitorioso, com margem bastante estreita, constatando-se a resiliência do núcleo central do bolsonarismo, provocando um quadro político e desafios novos, cujas soluções desaguariam num processo político, ao mesmo tempo, negociado e disputado. O quadro político que emergia das eleições era instável, dadas as diferenças de interesses dentro do grande arco de aliança que se conformou.
Participação: Roberto Amaral e Tarso Genro
