Tivemos no Brasil, nestas eleições, um embate que teve características inéditas em processos eleitorais anteriores. Desde os acontecimentos de 2013, passando pelo Golpe que caracterizou o impeachment da Presidenta Dilma e culminando com a eleição de Bolsonaro, constituiu-se um campo político de extrema-direita, com características distintas, mas convergentes, viabilizado por um clima de disputas calcado em valores e definição de campos antagônicos em torno desses valores, conformando relações de confrontos que cindiram a sociedade brasileira numa espécie de embate entre o Bem e o Mal, com este precisando ser extirpado, aniquilado. Criou-se um clima de animosidade e ódio que cindiu a sociedade, chegando ao ponto de romper relações humanas, seja nas famílias, nas amizades ou nos comportamentos.
Esse embate que se estabeleceu não é uma tipicidade brasileira, mas se relaciona com o mesmo fenômeno ocorrendo em escala internacional. Aqui, este conflito acabou por configurar um Governo Bolsonaro que provocou, ademais dos efeitos na sociedade, um desmonte na institucionalidade, seja governamental, seja econômica, seja mesmo na Sociedade Civil.
O processo eleitoral que culminou com a eleição do Presidente Lula, acabou tomando a feição de um confronto entre a Civilização e a Barbárie, entre a Democracia e o Autoritarismo. Dada a força política que ganhou esse movimento de extrema-direita e dados seus métodos, de envolvimento massivo ideológico, conforme os “valores” em disputa, a candidatura Lula acabou levando a um arco político de resistência que colocou no mesmo campo interesses muito variados, cuja linha de unidade é a tentativa de se voltar às mesmas relações de disputa que se davam na Nova República, no período anterior ao Golpe de 2016. Essa grande Frente Ampla, vitoriosa, apesar de com margem estreita, bem como a resiliência do núcleo central do bolsonarismo, provocam um quadro político e desafios novos, cujas soluções conformarão um processo político, ao mesmo tempo, negociado e disputado. Que características possui esse quadro político que emerge das eleições? Como lhe dar estabilidade, das as diferenças de interesses dentro da Frente Ampla? Como pacificar o País e as relações humanas? Quais as variáveis que ganham centralidade neste novo quadro político?
Para tratar desses temas conosco, teremos novamente a participação de:
Roberto Amaral, articulista, ex-Presidente do PSB e ex-Ministro da Ciência e Tecnologia
Tarso Genro, ex-Governador do RS, ex-Ministro da Educação, das Relações Institucionais e da Justiça
Commentaires