O governo Lula já vinha sofrendo na pele, em maio de 2023, duas consequências gravíssimas do quadro que foi formado na disputa política necessária à derrota da extrema direita, materializada no bolsonarismo. A primeira adveio do fato de que a candidatura foi levada à necessária conformação de um bloco bastante amplo, eivado de divergências e contradições, mas que permitiu um programa mínimo de defesa da democracia e enfrentamento de algumas das grandes sequelas sociais criadas no período que se seguiu ao golpe de 2016, buscando conformar um pacto também mínimo de defesa da Democracia. A segunda consequência do mesmo quadro, foi a não constituição de um bloco parlamentar suficiente para o desenrolar desse mínimo programa mínimo, o que já vinha levando o governo a ser empurrado para um jogo de chantagens políticas extremamente caro e que iria perdurar. Já era importante, naquele momento, ter-se clareza do contexto a que se foi levado nesse quadro, onde cada pequeno avanço acontecia num clima de disputas e chantagens políticas que derivavam de múltiplas determinações. Já havia uma forte desmobilização das bases sociais que deram viabilidade à estreita vitória do Governo Lula, bem como se contava com uma base congressual aliada insuficiente e a consequente necessidade de conviver com uma base parlamentar eclética, calcada no nada ideológico arco político a que se convencionou alcunhar de “Centrão” e, simultaneamente ainda, enfrentar um grupo político ideologizado da extrema-direita remanescente, que não é pequeno, além dos interesses econômicos que tentavam, todo o tempo, lhe impingir uma forte subordinação aos interesses do grande capital financeiro e do setor primário-exportador que têm, ambos, forte base parlamentar.
Participação: Roberto Amaral e Antonio Martins
